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Planejamento Urbano e Mercado de Trabalho: delineando possíveis correlações


Fonte: Ian Babelon


Na coluna da última semana, debatemos sobre como a relação entre o preço das habitações e a renda da população pode servir como indicativo do acesso ao financiamento habitacional e, consequentemente, da eficiência do desempenho urbano. Nesta coluna, queremos expandir a discussão para incluir a temática do mercado de trabalho.


Dados sobre postos de emprego formal são alguns dos mais atualizados e detalhados disponíveis no Brasil, pois o Ministério do Trabalho e Emprego divulga periodicamente dois levantamentos sobre o tema: a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Ambos apresentam informações relevantes, o RAIS fornece anualmente dados geolocalizados sobre os vínculos ativos existentes, e o CAGED publica mensalmente as admissões e demissões ocorridas no mercado formal. Tais dados são complementados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNADC), realizada pelo IBGE, que estima trimestralmente os rendimentos da população, bem como as taxas de pessoas ocupadas e a informalidade que existe neste cenário.


Esse conjunto de dados permite que se trace um panorama detalhado das oscilações do mercado de trabalho. Neste sentido, há relatórios e outros materiais divulgados periodicamente que analisam os aspectos socioeconômicos relacionados a tais dados. Os relatórios do IPEA, por exemplo, buscam esclarecer o que cada nova publicação do PNADC e do CAGED indicam sobre o mercado de trabalho, enquanto as publicações da PUC-RS em conjunto com o Observatório das Metrópoles descrevem o que se pode observar sobre a desigualdade de renda no país de acordo com os dados da PNADC. 


Tratam-se de publicações significativas que possibilitam o debate de questões socioeconômicas importantes, sabemos. Porém, nosso interesse específico nesta coluna é discutir sobre como podemos utilizar essas informações sobre o mercado de trabalho para, de alguma forma, elencar ferramentas que tornem possível melhor avaliar o desempenho urbano das cidades. Lembremos do quão importante é conseguirmos alcançar fatores mais objetivos a fim de contribuir, ou mesmo propiciar, o monitoramento das estratégias de desenvolvimento urbano criadas pelo sistema de planejamento.


Uma das associações mais comuns entre os dois temas é citada por Alain Bertaud  no livro “Order Without Design”. Ela indica que os tempos de deslocamento entre casa e trabalho são utilizados como parâmetro para avaliar a eficiência do sistema de mobilidade urbana. De forma similar, é usual em análises de redes urbanas se utilizar os possíveis trajetos entre residências e postos de trabalho para estimar as vias com maior probabilidade de terem altos fluxos de pessoas e/ou veículos, utilizando tal métrica para aferir os eixos mais vantajosos para o estabelecimento de atividades comerciais, por exemplo.


Contudo, nestas análises, utiliza-se como parâmetro a localização dos empregos, e não exatamente os dados sobre a variação da quantidade de vínculos empregatícios, desocupação e informalidade. Nesse sentido, a provocação que queremos trazer aqui é: seria possível que esses dados acerca do trabalho fossem usados como maneira de  melhor esclarecer outras questões urbanas? Tendo em vista a relação direta entre habitação e trabalho, poderiam os dados da RAIS, do CAGED e da PNADC serem aplicados a fim de explicar os resultados do Indicador de Acesso Habitacional que foi apresentado em nossa coluna anterior? 


Nossa hipótese é que os dados de trabalho podem servir como um indicativo do quanto as ineficiências observadas em uma cidade – alto valor das moradias, falta de infraestrutura, sistema de mobilidade ineficaz – afetam a sua demanda habitacional. 

Em nossa coluna da próxima semana, traremos os resultados que estamos obtendo em nossa pesquisa sobre este tema, que está em fase experimental dentro do Instituto Cidades Responsivas.


Autoria: Luciana Fonseca e Guilherme Dalcin

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