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Cartórios de registro de imóveis como impulsionadores de inteligência urbana

Consideremos um cidadão buscando regularizar uma construção no cartório. Na prefeitura, chamam de “benfeitoria”; no cartório, de “acessão”. Eis um exemplo do abismo linguístico entre prefeitura, cartório e o usuário.


Navegamos em mares tempestuosos de informação, onde a linguagem pode se tornar um obstáculo, não uma ponte. Nossos sistemas de cadastro e registro imobiliário ilustram essa fragilidade. O desafio não é só educar operadores e usuários, mas estabelecer uma comunicação efetiva, escapando das diferentes órbitas de entendimento. É como se vivêssemos um eco do que o sociólogo alemão Niklas Luhmann apontou na Galáxia de Gutenberg: as pessoas não liam porque não existiam livros antes da imprensa — não compreendemos porque não dispomos da linguagem adequada.


A comunicação efetiva vai além da linguagem: é sobre engajamento, conexão emocional. Precisamos reconhecer os sentimentos pessoais que permeiam essas interações. Quem nunca se sentiu um peixe fora d’água ao não ser compreendido por um agente público? E do outro lado, o operador também enfrenta a frustração de não entender por que o usuário não compreende.


Os filmes “Os Outros” e “Uma Mera Formalidade” capturam este fenômeno. A compreensão, quando chega, traz um arrebatamento. Este é o momento em que a complexidade se revela!


Na última década, novas atribuições aos registradores pareceram estranhas à nossa maneira tradicional de exercer a função. Apesar do choque inicial, atravessamos este Rubicão emocional e prestamos os novos serviços atribuídos, mesmo sem compreendê-los completamente. No entanto, a sociedade se fortaleceu quando engajamos contra a lavagem de dinheiro e na defesa contra o uso indevido de dados pessoais, ao lado da tradicional análise da regularidade das operações imobiliárias.


O desafio é tornar nossos serviços tão intuitivos quanto o ecossistema de um smartphone. Esse é o referencial que devemos almejar: tornar o cartório, o novo prelo de nossa era, acessível para todos. Para tanto devemos aproximar a prefeitura do registro de imóveis pela práxis da cidade, por sua realidade, não pela imagem multifacetada segregada nos diversos escaninhos das secretarias municipais.


O cartório de registro de imóveis sendo capaz de ler a cidade por seus marcos georreferenciados, consegue apontar as práticas municipais que não a observam, como loteamentos em áreas proibidas, ampliações em áreas de risco ou de inundação.


Texto de autoria de autoria de Franklin Estrella, Oficial de registro de imóveis em Alegre/ES

 

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