Foi publicado na página de indicadores do Instituto Cidades Responsivas o cálculo de um indicador que mede a diferença entre a quantidade de vínculos de emprego existentes nas capitais do país e o número de habitantes que encontram-se ocupados no mercado formal de trabalho. Essa métrica foi elaborada a partir da hipótese de que, se há mais vínculos do que pessoas empregadas em uma cidade, então possivelmente esses postos de trabalho “adicionais” estão sendo ocupados por residentes de outras localidades.
Nesse sentido, iniciamos este artigo com um questionamento: esse número de indivíduos que decidem residir em uma cidade diferente do seu local de trabalho poderia servir como uma estimativa do quanto um município “perde” em população devido às suas ineficiências, tais como moradias muito caras, sistema de transporte precário ou falta de infraestrutura?
A fim de responder tal questionamento, desenvolvemos os cálculos cujos resultados estão ilustrados abaixo. Eles apresentam os percentuais que indicam a parcela dos postos de emprego que possivelmente são ocupados por habitantes de outras cidades. Esses números revelam que as capitais brasileiras possuem tendências bem distintas: enquanto Vitória e Recife apresentam altos percentuais, Campo Grande e Macapá têm resultados negativos, indicando que elas tendem a fornecer mais mão de obra para os municípios do entorno do que o contrário.
Resultados do cálculo do Indicador de Trabalho x Local de Moradia para as capitais brasileiras. Imagem: Instituto Cidades Responsivas.
O significado desses resultados fica mais claro quando os correlacionarmos com o indicador de acesso habitacional, desenvolvido por nós, que mede o quão caras são as moradias das cidades em relação à renda de sua população e que foi discutido em uma de nossas colunas anteriores. Essa análise comparativa é ilustrada no gráfico abaixo. Nele, o eixo horizontal contém os valores do indicador de trabalho, enquanto o vertical se refere aos resultados do acesso habitacional, no qual quanto maior o valor, mais caros são os imóveis residenciais. Essa análise comparativa é ilustrada no gráfico abaixo. Nele, o eixo horizontal contém os valores do indicador de trabalho, enquanto o vertical se refere aos resultados do acesso habitacional, no qual quanto maior o valor, mais caros são os imóveis residenciais.
Correlação entre indicador de trabalho e de acesso habitacional. Imagem: Instituto Cidades Responsivas.
Essa correlação mostra uma tendência de que as capitais que apresentam moradias mais baratas também sejam aquelas com os menores valores do indicador de trabalho, enquanto as cidades com habitações mais caras apresentaram maiores percentuais de postos de emprego possivelmente ocupados por habitantes de municípios vizinhos. Tais resultados são um primeiro indicativo de que, de fato, quanto maior a ineficiência da cidade em suprir as necessidades da população, – neste caso, fornecer habitações com preços compatíveis com os níveis de renda local – maior o número de pessoas que buscam moradias em outros locais com custos mais baixos, mas sem mudar de emprego.
Os valores que contrariam tal tendência são os de Maceió e Vitória, os quais podem ser explicados pela relação das cidades em questão com seu entorno, em termos demográficos. Por um lado, o fato de Vitória possuir o valor do indicador de trabalho acima do esperado pode sugerir que ela esteja oferecendo mais postos de trabalho do que sua população é capaz de ocupar, uma vez que, apesar de ser a capital do Espírito Santo, tem apenas a quarta maior população do estado. Por outro lado, Maceió possui cerca de 80% da população de sua região metropolitana, de modo que o fato de seu indicador de trabalho estar abaixo do esperado pode decorrer da falta de concorrência que suas vizinhas – menores em tamanho – conseguem impor em relação à atração de novos habitantes.
Este panorama geral mostra que o indicador de trabalho é outro instrumento que, em conjunto com o indicador de acesso habitacional, tem potencial para contribuir com o monitoramento das cidades brasileiras, evidenciando pontos a serem discutidos para as aperfeiçoar. Tais ferramentas, ao permitirem a contínua avaliação das cidades, podem contribuir para tornar mais responsiva a administração pública ao identificar mais rapidamente e propor soluções para os problemas urbanos. Tem-se aí um instrumento de monitoramento efetivo.
Luciana Fonseca e Guilherme Dalcin
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